Devo ser estranho, talvez. Não
consigo lidar com algumas coisas, e finjo não me importar com outras. Em um dia
frio, eu disse com todas as letras “Eu não quero mais você aqui, suma da minha
vida!”, e ele sumiu. Sumiu da minha casa, deixando todas as suas roupas, e
nunca mais voltou. Eu, como sempre, fingi não me importar com isso. Achei que
seria por algumas horas. “Ele vai voltar, calma. Ela vai voltar. Ele TEM que
voltar”. Mas ele não voltou. Horas se transformaram em dias; os dias, em semanas;
semanas em meses. E hoje estou aqui.
Um dia de chuva, eu o procurei no
parque onde o conheci. Lembro-me dele sorrindo, de camisa branca, calça azul e
descalço. Parecia uma criança. Eu estava ao telefone, com aquelas crises do
trabalho. Tentando me libertar de algo que eu odiava. O vi, desliguei o
telefone quase que instintivamente, e o fitei até ele ficar sem graça. Achei, na
hora, que ele tomaria satisfações. O por quê de eu estar ali, o observando tão
atentamente. Mas não, ele veio sorrido e se apresentou. Eu olhei nos olhos,
disse meu nome, e ri de um jeito bobo e tolo. Calçou os sapatos, me chamou pra
tomar um sorvete, e disse: “Temos que tirar mais sorrisos dessa cara séria,
engravatada e meio sem graça”. Eu sorri de novo.
Meses se passaram desde à ultima
vez que o vi. Anos se passaram daquela tarde no parque. E ele não estava ali. “Tenta
mais uma vez, ele pode atender”. Liguei. Chamou uma, duas, três .. sete vezes.
Ele não atendeu. Não o culpo, porque deveria? O modo como o tratei, não se
trata ninguém. Ele era orgulho, e eu sabia disso. A culpa não era dele. Eu não
sabia lidar com minhas emoções, nunca soube.
Sentei num banco aleatória, onde
via crianças brincando, casais namorando. E liguei mais uma vez, mesmo sabendo
que cairia na caixa de mensagem, o que realmente aconteceu. “Desculpa. Eu sou
um idiota, e você sabe. Desculpa por ser esse grosso, estupido, arrogante cara,
que não se mostrou quem era no começo. Desculpa por tê-lo observado no parque e
tê-lo feito entrar na minha vida. Só te fiz sofrer, te magoar e decepcionar-te.
Quem mais me aguentaria, além de mim? Culpa minha se ficarei sozinho. Tive
você, e estraguei tudo. Desculpa pelas palavras”.
Continuei sentado ali, por mais
alguns minutos. Olhei pro céu, que agora estava num azul lindo, como nunca vira
antes. Respirei fundo e sai daquele lugar. Um lugar que eu sabia que não
voltaria nunca mais, que de agora em diante faria parte do meu passado, e só.