# 00h00min.


Eu tenho uma vontade de gritar pro mundo algo que eu não sei nem dizer em palavras. Há um ódio dentro de mim a ponto de bala, a se manifestar devagar e sempre, a me consumir e me fazer estraçalhar meu coração. O que eu não consigo entender é porque isso veio se manifestar agora? Será que eu sempre tive isso dentro de mim e nunca reparei?

Eu ando meio diferente, tratado as pessoas com indiferença. Sendo um imundo, um nojo. As vezes eu me machuco porque eu não tenho mais a quem machucar. Todos que um dia nutriram um sentimento por mim foram embora, e só me restaram fotos, lembranças desses poucos que me amaram. Eu vivo sozinho em um quarto pequeno, abafado, e que me deixa um pouco claustrofóbico, e eu odeio ele. Odeio com tanta força que as vezes eu jogo tudo no chão e piso, quebro, amasso, tudo isso pra ver se eu ainda estou vivo, se ainda possuo sentimentos, mesmo que por objetos, mas se ainda possuo, quem sabe assim eu me sinta vivo e possa quem sabe chorar por todos esses anos em que não derramei uma lágrima sequer, guardando tudo isso dentro de mim. Quem sabe se fizer isso eu possa me libertar desse ódio que tanto me consome.

Eu passeio por essas ruas com a cabeça erguida, tentando mostrar um status que não tenho, procurando uma pessoa que olhe pra mim e sinta inveja. Nunca encontrei, todas olham e parecem que enxergam o meu verdadeiro eu, aquele homem frio, seco, com um ego maior que sua própria sombra. Elas olham pra mim, me julgam, como odeio elas, como odeio todas elas.

O único ser que consegue ter um pouco de, acho eu, afeto é o meu peixe, e ele as vezes acho que quer fugir do seu aquário, tentando me deixar mais sozinho do que eu já sou de fato, ele é o único a quem não odeio, ele me escuta, as vezes acho que até me entende, as vezes ele olha pra mim e parece que quer sair dali nadando o mais depressa possível.

E eu me pego pensando todo esse tempo em você, aquele teu gosto que não me sai da boca, aquele teu cheiro que está preso em mim, aquela tua voz que ecoa por todo o meu quarto. Como eu me odeio, e hoje eu não pude seguir em frente, hoje eu não pude erguer minha cabeça, hoje eu não joguei minhas coisas, eu não falei com meu peixe, hoje eu percebi que eu não mereço viver, que eu não mereço ser chamado de homem. Hoje eu só queria te dizer isso, eu tenho um ódio no meu coração que eu não consigo suportar, que esta tão preso a mim, é meu ser, é quem eu sou. E hoje eu sei que quem me acalmava era você, quem me fazia sorrir era você, e eu não tenho mais isso.

[e um som ecôo daquele quarto esta noite]

Um comentário:

paty disse...

gean, eu te amo e adoro tudo q tu escreve!